Eu evito fazer afirmações tão categóricas, porque odeio ver conteúdos com esse tipo de chamada. "Você não sabe"... como você sabe que eu não sei? Você veio aqui me perguntar por acaso? Esse tipo de chamada atrai as pessoas pela ativação do medo e da ansiedade: "Será que eu não sei mesmo? Isso pode ser importante? Eu posso estar perdendo algo por não saber disso? Melhor ver o vídeo...".

Honestamente, uma grande palhaçada.

Mas, o título do texto de hoje? Você realmente não sabe. E isso é muito importante. E não saber disso está, sim, te prejudicando. Então, vem comigo.

Prometo que não tem nenhum link para um curso de 297 reais no hotmart no final desse texto.

Então, o que é essa tal de sobrecarga sensorial? Talvez um dos conceitos mais relevantes ao tratarmos de autismo, e que recebe uma ínfima atenção dos cientistas e da mídia. Durante a maior parte do tempo desde que o autismo foi clinicamente descrito, as questões sensoriais vivenciadas por pessoas autistas eram completamente desconsideradas. Mesmo hoje, o aspecto sensorial ocupada quase uma nota de rodapé no capítulo do DSM-5 que trata de autismo.

Fala-se pouco sobre o assunto, e o pouco é raso, superficial.

Do princípio, então: pessoas autistas possuem percepção e processamento sensoriais qualitativamente distintos em relação às pessoas não autistas. De forma geral, isso se traduz em uma grande sensibilidade a diversos tipos de estímulos.

ilustração com um menino estilo cartoon, mãos na cabeça e expressão perturbada, olhos e boca bem abertos, com uma sirene ligada atrás
A melhor forma de explicar isso, para mim, é dizer que meu corpo tenta processar intensamente tudo ao meu redor: o que produziu esse som? O que ele significa? É algo que exige minha atenção? E esse outro som? E esse cheiro? Esse movimento na periferia da minha visão?

Relações sociais implicam em uma torrente de estímulos que devem ser exaustivamente analisados: o jeito que essa pessoa falou comigo representa perigo? De que forma devo responder? Eu posso falar como eu realmente me sinto ou eu devo recorrer a uma das respostas seguras?

Isso se torna cada vez pior ao longo de uma vida em que a pessoa autista é colocada em situações inseguras e violentas. Desenvolve-se o trauma: nunca baixe a guarda, analise tudo, o tempo todo. Nunca fique de costas para a porta.

Autistas não entendem comunicação não verbal? Eu garanto que há muitos que são mestres em perceber as mais sutis flutuações de humor. Você faz o que é necessário para sobreviver. Perceber o peso dos passos de um pai violento pode garantir os segundos necessários para correr para o quarto e trancar a porta antes que o pior aconteça.

Autistas têm pouca percepção social? Há muitos autistas em situações de múltipla vulnerabilidade que percebem os movimentos sociais de um ambiente inteiro, em segundos podem perceber um olhar que se virou na sua direção de forma maliciosa.

Em nossa sociedade profundamente violenta e capacitista, autistas são sobreviventes.

Meu corpo sente tanto, quer compreender tudo que está ao seu redor. Para lidar com esse intensidade, preciso de previsibilidade, de rotina, que as coisas estejam em seus devidos lugares para que eu possa me acalmar. "Sim. eu já passei por aqui, já fiz isso, e está tudo bem, nós realizamos nossa avaliação e verificamos que estamos seguros".

A rotina que conheço me traz segurança porque sei que consigo lidar com o que tenho de fazer se seguir aquela rotina. Daí a extrema rigidez em relação a rotinas: o que para os outros é um desvio de percurso, uma mudança de horários, para mim, é a possibilidade de perigo. O caminho diferente pode me levar por estímulos que me sobrecarreguem, a diferença de horários pode perturbar minha auto regulação.

Eventos que necessitem de uma reação imediata são uma situação extremamente alarmante para mim. Eu levo muito mais tempo do que as outras pessoas para processar os acontecimentos, como me sinto em relação a eles e como devo reagir. Tempo que nunca me é dado. Tempo que se esgota e então recebo comentários impacientes, sofro as consequências de não ter feito a escolha correta.

Imagine um problema de matemática diante de você. Eu lhe digo, você tem dez segundos para resolver essa questão. Você pode não ter certeza de quanto tempo vai precisar, mas tem certeza de que é muito mais do que dez segundos. "O que acontece quando acaba o tempo?" Você leva um choque.

Você consegue entender porque nós autistas fazemos o possível para evitarmos estar nessa situação? Nos amarramos em rotinas, criamos roteiros, scripts e respostas previamente planejadas e calculadas.

Quem me conhece talvez tenha a impressão de que tenho um processamento muito rápido, porque por vezes respondo logo, faço elaborações complexas, mas a verdade é que eu abro uma das minhas mil gavetas que contém questões sobre as quais já refleti, puxo de lá uma resposta e entrego. O que aos outros parece rápido na realidade é resultado de um processo intenso e contínuo, em que estou sempre calculando, calculando, calculando...

Então, necessito da rotina, da previsibilidade, do apoio, do suporte, do acolhimento e da adequação sensorial para que eu me sinta segura.

Quando me sinto segura, posso focar nas relações com as pessoas ao meu redor. Posso compreender melhor as explicações da professora quando meu corpo não está gritando em pânico.

Mas o que o autista encontra, geralmente? Apenas mais motivos para reforçar a sensação de que não está em segurança. A possibilidade de perigo se torna uma certeza. Esse som que não consigo identificar? Ele é alto o suficiente para me deixar sobrecarregado, e não encontro amparo para remover esse barulho ou para me proteger dele. A fala dessa pessoa cuja intenção não consigo decifrar? Transforma-se em bullying, em humilhação, em violência.

Nós não nos sentimos seguros. Em momento algum. E temos excelentes motivos para isso. Mas, anos mais tarde, tudo que passamos será desconsiderado ao sermos rotulados com um transtorno de ansiedade generalizada. Acalme-se, tome esse remédio, faça essa terapia para tratar desses pensamentos irreais, vai ficar tudo bem.

Não, não vai ficar tudo bem.

Ao menos, não enquanto a sociedade não compreender a forma como nos violenta, diária e continuamente.

Antes que me acusem de hipocrisia, eu não condeno o uso de medicamentos, até mesmo porque tomo um pequeno coquetel todos os dias. Mas as pílulas que engulo são incapazes de resolver a violência que sofri e sofro por ser autista.

Seria como dizer para uma mulher que sofre violência doméstica que ela deve tomar remédios para dor e fazer terapia, sem buscar resolver sua situação de agressão.

Esse corpo que sente tudo, o tempo todo, com tanta intensidade, tem algum defeito? Não, ele traz apenas uma possibilidade de existência. A sensibilidade com sabores e texturas pode se relacionar com uma seletividade alimentar, mas também pode se relacionar com uma profunda apreciação da comida, percebendo tons e notas, ingredientes de diferentes qualidades, as sutis diferenças causadas por variações no modo de preparo.

ilustração com um menino estilo cartoon, expressão concentrada de olhos fechados e um leve sorriso, uma partitura com notas musicais em curva ao fundo

A sensibilidade auditiva pode se relacionar com uma dor incapacitante diante de barulhos, mas também pode se relacionar com uma conexão profunda com a música, fonte de uma experiência quase transcendental.

Se o tópico são autistas, a sensibilidade sensorial é um sintoma, algo a ser tratado, terapeutizado, fonte absoluta de sofrimento.

Se o tópico são pessoas diagnosticadas com altas habilidades / superdotação, a sensibilidade sensorial é indício de uma mente delicada e sensível, que sente o mundo profundamente, algo a ser compreendido e respeitado. Olhe, olhe sua sensibilidade, se tornará um grande artista!

Eu não vou nem comentar que há grande coincidência nos grupos de pessoas consideradas autistas e de pessoas consideradas com altas habilidades / superdotação... mas, pronto, soltei. Vocês que lidem com o barulho, que eu não vou elaborar sobre isso hoje.

Porque é preciso continuar e responder à pergunta urgente: como a pessoa autista pode lidar com essa sensibilidade exacerbada?

Oras, da mesma forma com que todas as pessoas aprendem a lidar com suas sensibilidades. Não é que falte algo extraordinário para que autistas tenham acesso ao que necessitam para se desenvolverem com respeito às suas singularidades, mas que isso nos é negado.

Como uma criança pequena aprende a lidar com o imenso mundo ao seu redor? Ela cai e rala o joelho. A dor a angustia, ela chora, porque não compreende o que aconteceu e o significado daquela dor. O que fazem seus pais e cuidadores? Acolhem, limpam seu ferimento, colocam curativos, mostram que tudo ficará bem. Para a criança muito pequena, toda dor é desesperadamente angustiante, e é apenas na sua relação com seu meio que ela aprenderá a lidar com tudo isso.

O trovão ecoa, tremendo toda a casa. Medo, medo, medo, o que é isso? O coração da criança acelera. Deve receber colo, ouvir uma voz paciente que lhe passe segurança e diga que tudo ficará bem.

A chegada na escola. Um ambiente diferente. Será seguro? Braços abertos, vozes acolhedores, o reconhecimento de que esse é um processo desafiador, mas que há pessoas ali para protegê-la.

Se a criança ouve que suas dores e temores são frescuras, se não é acolhida, se não garantem que ela será protegida, será muito difícil que ela consiga desenvolver sua própria segurança. Nossa auto estima, nosso amor próprio, a segurança que temos em nós mesmos, tudo isso se desenvolve nas relações com o outro. Para que nos amemos, precisamos antes ser amados. Para que tenhamos segurança em nós mesmos, precisamos antes ser protegidos. Isso é verdadeiro para todo ser humano.

(Você recebeu isso na sua infância? Você consegue imaginar como isso influenciou a pessoa que você é hoje?)

Mas, em sua sensibilidade exacerbada, a criança autista se assusta e se angustia com estímulos que são banais para as pessoas ao seu redor. As vozes altas de discussões entre adultos, as mesas e cadeiras sendo arrastadas na sala de aula, os carros passando rapidamente na rua: tudo isso nos toca intensamente, como dezenas, centenas de trovões ecoando ao nosso lado, todos os dias.

ilustração com um menino estilo cartoon, olhando para o lado com uma mão estendida, para a mão de alguém
Nesse momento a criança precisa ser compreendida. "Eu ainda não sei o que te angustia nesse momento, mas vou estar ao seu lado para descobrir e encontrar uma forma de lidar com isso" seria um bom ponto de partida. A criança não necessita que o adulto saiba e seja capaz de tudo, ela precisa que esse adulto reconheça seu sofrimento e esteja presente para ajuda-la a lidar com esse desafio.

"Há barulho aqui. Podemos eliminar a fonte do barulho? Podemos realizar mudanças no ambiente?" Proteções de feltro nos pés das cadeiras e mesas poderiam diminuir drasticamente o ruído das salas de aula a um custo irrisório, mas você já viu isso ser discutido por aí? Novamente, nosso sofrimento é desconsiderado, deixado de lado. Devemos aprender a lidar com nosso ambiente, aguente, persista, aprenda a tolerar.

Coloque sua mão sobre o fogo, talvez isso ajude a lidar com sua terrível sensibilidade ao fogo e ao calor. Seus nervos e sua pele vão morrer, e com eles a dor. Problema resolvido. É isso que nos propõem.

Removem nossos protetores de ouvido porque falamos muito alto quando estamos com eles.

Há algum tempo, sempre que falo de sensibilidade sensorial, eu falo que não se trata de um desconforto. Não é que todos sintam o mesmo desconforto com barulhos e que autistas apresentem esse desconforto em um nível muito mais baixo do que seus pares.

O que sinto diante de um barulho alto e inesperado é dor. Era isso que eu costumava dizer. E via como isso mexia com as pessoas, como se engrenagens se movimentassem dentro delas para compreender de uma nova forma a sensibilidade de autistas a barulhos.

(Falo de barulho porque, pessoalmente, é onde tenho maior sensibilidade, mas considere que isso tudo pode se referir a qualquer estímulo, interno ou externo.)

Costumava dizer, porque recentemente me dei conta de que mesmo falar que se trata de dor não é suficiente para tratar da complexidade do que acontece dentro de mim em uma sobrecarga. E isso me motivou a escrever esse texto com esse título: a sobrecarga sensorial não é mero desconforto, e também é muito mais do que dor, e nós realmente precisamos falar sobre isso.

Você já sentiu uma dor tão absolutamente devastadora que você quis morrer? Eu já senti muita dor física: já tive meu ombro deslocado cinco vezes, queimei e cortei os dedos diversas vezes ao cozinhar, tive contrações por mais de 24 horas quando minha filha nasceu, tenho dores crônicas há anos, com crises que já me deixaram de cama por dias. A dor de deslocar um ombro é alucinante. Eu já tive os dois ombros deslocados simultaneamente. Digo isso para que entendam de que lugar eu falo quando digo que uma sobrecarga sensorial é de uma ordem completamente diferente, nenhuma outra experiência que tive se compara a ela.

A depender da qualidade e intensidade, são necessários segundos para que um barulho me coloque em situação de sobrecarga. Sinto como se todo meu corpo estivesse emitindo alarmes, uma torrente que impede a chegada de qualquer outro estímulo.

Os estímulos se acumulam, como se enchessem um copo. E quanto mais próximo de estar cheio está o copo, mais rapidamente ele se enche. Quando mais sobrecarregada estou, mais os estímulos doem, machucam, dilaceram. Reconheço que estou próxima do meu limite quando uma gota que cai de uma torneira mal fechada parece arrebentar meus ouvidos.

O copo transborda: o som das vozes parecem ataques ensurdecedores, o toque suave queima minha pele, tudo dói, machuca.

ilustração de fogo em estilo cartoon
Você quer que eu fique quieta, me comporte, que preste atenção? Como alguém pode exigir isso quando meu corpo está em chamas?

Não, mesmo estar em chamas seria preferível a estar nessa situação, porque toda minha mente se dissipa e se dissolve em uma tormenta de desespero. Não há espaço para pensamentos e decisões ditas racionais.

"Seria melhor que eu morresse", "o mundo estaria melhor sem mim", "eu nunca vou ser feliz mesmo", "não há espaço para mim nesse mundo", são apenas alguns pensamentos que gritam repetidamente na minha mente em uma sobrecarga, acompanhados de uma vontade frenética de bater a cabeça na parede, de me cortar, de me machucar.

E agora eu preciso que você preste atenção ao que eu vou dizer, porque pode ser difícil de aceitar: o meu corpo não está errado. Ele não está com defeito. Eu não preciso de um remédio para deixar de querer me jogar de uma ponte a cada nova sobrecarga, eu preciso de apoio para desenvolver formas de lidar com isso com as quais eu possa estabelecer uma relação segura com o mundo ao meu redor.

Esse estado extremo é uma resposta a uma condição extrema, e o que sinto de forma tão dolorosa e angustiante nada mais é do que o meu corpo tentando me proteger. Somos um todo único, não se pode entender nenhum aspecto de nosso corpo e de nossa mente sem compreender sua relação com esse todo.

Se há risco de nosso cérebro ficar sem oxigênio, nós podemos desmaiar porque ficar na posição horizontal favorecerá o transporte de todo oxigênio disponível para o cérebro.

Se somos surpreendidos com um grande peso em nossas mãos, nossos dedos se abrem e deixamos o objeto cair porque isso é mais seguro do que arriscar a fratura óssea ou o rompimento de tensões e músculos. Diante de uma força brusca sobre nossas cabeças, os músculos de nosso pescoço serão sacrificados para tentar evitar danos ao cérebro e às suas conexões com o restante do corpo.

Se os estímulos ao nosso redor romperam as barreiras do que conseguimos lidar, nosso corpo tentará lidar com essa situação com as ferramentas que tem ao seu dispor. Sabe uma coisa que acontece quando machucamos um ponto específico do corpo? Nossa atenção se concentra sobre aquele ponto e a atenção sobre o restante do corpo se reduz. Se todo o seu corpo está em chamas, concentrar a dor em um ponto para diminuir a dor em todo o resto começa a parecer uma estratégia bastante razoável. O corte do qual sai sangue parece doloroso, mas é um avanço em relação à situação anterior.

E o momento deve ser compreendido levando em consideração toda sua história de vida: a sobrecarga no trabalho não está relacionada apenas a um instante, mas a toda a história de excessos, de violências, de repressões. Seu corpo reconhece essa situação presente de acordo com sua história e pede que você recue, que se afaste. Mas você não o faz: como poderia? É necessário trabalhar para garantir sua sobrevivência no capitalismo. Mas seu corpo não desiste: ele aumenta o tom, passa a gritar, seu sistema imune se fortalece e você se afasta sob licença médica uma, duas vezes. Você recebe remédios para acalmar esse corpo, para silenciar essa voz.

Em resposta, seu corpo escala suas táticas. A depressão o deixa de cama, tira sua capacidade de trabalhar, de sair de casa, de se expor a novas situações que o colocarão em perigo.

É impossível superar esse dilema acompanhando essa escalada. É preciso, finalmente, se sentar e dialogar com esse corpo: "sim, estamos em uma situação difícil. Vamos tentar encontrar uma forma de lidar com isso".

E isso pode ser brutalmente difícil, porque esse momento pode ocorrer aos 20, 30, 40, 60 anos de idade, e será preciso retomar um desenvolvimento que tem sido impedido desde os dois, três anos de idade.

"A sua dor e o seu desconforto são reais e merecem acolhimento".

"Você pode demonstrar sua dor sem que isso o coloque em risco".

"Pedir ajuda para encontrar uma forma de lidar com essa situação não é sinal de fraqueza, e você não é uma pessoa inferior por precisar de apoio".

"Isso é um desafio para você, mas estou aqui do seu lado para te apoiar se você precisar de ajuda e você pode parar quando quiser".

Na realidade, todos dependemos um dos outros, mas essa sociedade tem se empenhado em nos fazer esquecer dessa realidade concreta enquanto a substitui pelo mito da independência.

E há todo um conhecimento técnico e prático que deve ser construído: durante toda a vida tive problemas com barulhos, mas apenas após o diagnóstico me ocorreu comprar fones com cancelamento ativo de ruído.

Toda a vida lidei com um pensamento acelerado, mas apenas recentemente percebi que desenhar e rabiscar me ajuda a manter minha atenção centrada.

Minha rotina hoje foi construída para lidar com minha energia flutuante e minhas crises sensoriais e de dores crônicas. Não me culpo mais por não me encaixar nos padrões socialmente impostos de como devo funcionar e do que devo conseguir fazer em um dia. E o resultado disso é que finalmente sinto que posso ser eu mesma e viver a vida no meu ritmo.

Quando o corpo para de gritar, consigo ouvir quando ele fala baixo: recue, você se aproxima de um lugar perigoso. E porque a ouço e procuro formas de lidar com os estímulos antes que eles me sobrecarreguem, meu corpo não preciso mais gritar com tanta frequência. E posso começar a me recuperar, finalmente.