Sobre mim

Uma tentativa de auto apresentação.

Olá, o meu nome é Cindy e eu sou realmente terrível com apresentações.
Vejamos... com quantos termos eu posso me descrever?

Eu gosto do termo quase matemático autista*(artista+ativista+pesquisadora), porque eu ser autista não constitui apenas quem eu sou, mas eu me reconhecer enquanto membro da comunidade autista influencia todo o meu trabalho, enquanto artista, enquanto ativista e enquanto pesquisadora da área da educação.

Olha, eu realmente não gosto de me apresentar. Sempre parece perfomático demais. Vamos lá, sou mestra em educação, já dei palestras em diversas cidades, tenho algumas publicações científicas. É o que fazem nas apresentações, né? Apresentar um currículo para dizer porque você deveria me ouvir. Você pode conferir o meu Lattes (juro que em algum momento ele estará devidamente atualizado), meu perfil @cindyautista no Instagram que me ajudou a alcançar um público maior do que eu esperava, apesar de eu ser absolutamente terrível em manter perfis em redes sociais, e se inscrever no meu substack, onde envio textos com infrequência...

Espera aí, vamos tentar de outro jeito.

Meu nome é Cindy, e eu tenho raiva.

Quando tive meu diagnóstico e olhei para a minha história de vida e me dei conta de que eu não era um fracasso e que havia um motivo para tantas coisas serem tão difíceis para mim, eu tive raiva. Passei a vida indo em médicos e outros profissionais com crises gigantes de depressão e ansiedade, e nunca ninguém suspeitou que aquela menina calada, que fazia pouco contato visual, tinha grandes dificuldades sociais e um pequeno número de intensos interesses pouco usuais poderia ser autista?

Minha mãe conta que aos dois anos eu alinhava copos de café enquanto ela conversava com alguém a trabalho.

Nas festas eu me escondia atrás dela quando o barulho era alto, especialmente quando começavam a estourar balões.

"Por que você é tão estranha?"

"A Cindy é de outro planeta."

Mas eu tirava notas boas, falava e escrevia bem, não dava trabalho, como eu poderia ser autista?

Quando recebi o diagnóstico, comecei a estudar sobre autismo. E quanto mais eu estudava, mais raiva eu sentia.

Eu lia e ouvia sobre como crianças eram tratadas, forçadas a participar de eventos enquanto tapavam os ouvidos em agonia.

A ciência, que deveria pesquisar formas de nos compreender melhor para nos ajudar a navegar neste mundo tão turbulento, revelou-se obstinada em encontrar uma causa e uma cura para o autismo.

A cura para o autismo é a aniquilição da existência da pessoa autista. Não há uma Cindy sem autismo.

Dei-me conta de que para uma grande parte da sociedade, seria melhor que pessoas como eu não existissem.

Certamente não é fácil viver em uma sociedade que o tempo todo age para nos esmagar. Tive depressão durante boa parte da minha vida, atualmente lido com dores crônicas que certamente estão relacionadas às inevitáveis violências que uma pessoa autista sofre ao longo de sua história.

Mas a minha vida, assim como a vida de toda pessoa autista, têm valor. Nós temos o direito de viver sendo quem somos.

Este projeto é meu grito de guerra.

Para mim é muito difícil estar em lugares com outras pessoas. Não tenho condições de ter um emprego no formato usual, de carteira assinada, com horários fixos. Minha saúde atual requer por vezes dias para me recuperar de uma crise, por vezes consigo ficar poucos minutos sentada escrevendo e trabalhando.

Felizmente, sou afortunada com uma família que permite que eu não precise trabalhar para garantir minha sobrevivência.

Mas tenho essa amorosidade raivosa.

E não consigo fechar os olhos quando vejo os canalhas que dominam os discursos sobre o autismo e erguem fama e fortuna alimentando-se do medo e da insegurança das famílias e da sociedade. Canalhas que constroem a imagem do autismo como uma terrível tragédia e os autistas como seres irracionais, agressivos, incompreensíveis, para então venderem suas caríssimas soluções destinadas a domesticar essas criaturas.

Há coisas em que sou boa. Sou extremamente analítica, e capaz de estudar e pesquisar durante dezenas, centenas de horas para compreender melhor o que me importa. E o autismo me importa muito. Nesse site, espero poder disponibilizar o resultado de todo esse trabalho que venho desenvolvendo, na esperança de que pelo menos algumas pessoas possam conhecer outras perspectivas com as quais possam construir novas formas de entender e lidar com pessoas autistas.

Para que talvez a gente não tenha que sofrer tanto.

Não espere conteúdos rápidos. Como você já deve ter percebido, o que eu faço, leva tempo.

Trabalho com esse corpo dolorido que eu tenho. O artigo sobre sobrecarga sensorial demora para sair porque eu tenho que lidar com minhas frequentes crises.

Mas, sabem, sou como uma barata. Você já tentou esmagar uma, apenas para vê-la sair correndo assim que levantou o pé?

Quero ser como uma barata para essa gente canalha que ganha dinheiro com o sofrimento de pessoas como eu: uma presença que incomoda, que parece tão pequena, tão irrisória, tão marginalizada, mas que persiste, e persiste, e persiste.

É isso.

Prazer, eu sou a Cindy, e eu sou a barata.